Segunda parte das aventuras sexuais de Joe (Charlotte Gainsbourg), uma mulher de 50 anos que decide, depois de hesitar um pouco, contar a um homem mais velho (Stellan Skarsgard) sua história pessoal. Ela fora diagnosticada como ninfomaníaca. Ele ouve atento as histórias da mulher que desde muito jovem tem fortes desejos sexuais.
Antes de tudo, é importante destacar que a mais nova obra de Lars von Trier deve ser vista como uma coisa só, ainda que seja dividida em duas partes. Se Ninfomaníaca - Volume 1 não tinha propriamente um final, Ninfomaníaca - Volume 2 não tem um início, o que pode prejudicar quem analisa as duas partes separadamente. Um volume pode ser melhor do que o outro, mas isso não significa que estamos diante de coisas diferentes.
Ninfomaníaca - Volume 2 - FotoEste volume dois começa do ponto em que terminou o anterior, com Joe (Stacy Martin) reencontrando Jerôme (Shia LaBeouf) e se dedicando completamente a ele. No que talvez seja o capítulo mais interessante da obra, vemos os dois agirem como um casal, com o sexo ficando um pouco de lado. Mas só para retornar de forma devastadora mais tarde.
A dinâmica é exatamente a mesma do primeiro filme. Enquanto acompanhamos a jornada de destruição da personagem, a partir dos relatos dela mais velha (Charlotte Gainsbourg), temos Seligman (Stellan Skarsgård) contextualizando todas as situações e experiências, em uma série de metáforas, que em alguns momentos são tão absurdas que o próprio longa trata de criticar seus devaneios. Ainda assim, funciona como uma espécie de transmissor da mensagem de von Trier.
O longa oferece uma série de questionamentos e não deixa de fazer analogias religiosas, chegando a ter um capítulo chamado "a igreja ocidental e a oriental". Não há um discurso claramente religioso, mas o pecado, a culpa e o flagelo estão presentes ao longo de toda história.
Ninfomaníaca - Volume 2 - FotoSe na primeira parte de Ninfomaníaca, a sensualidade era parte fundamental da história, aqui não acontece o mesmo. A protagonista Joe já começa sem sentir prazer e na medida que a trama avança, só vemos violência e destruição. A busca é pelo prazer existe, mas ele não aparece. Ao ponto de nos depararmos com o ménage à trois mais confuso e menos sexy visto nas telonas.
Para aumentar a sensação de desconforto, von Trier e seu diretor de fotografia Manuel Alberto Claro investem em tomadas granuladas. O diretor também faz referências claras a filmes anteriores, em especial Anticristo, repedindo uma sequência apenas para apresentar um resultado diferente, não sem antes deixar seu espectador bastante tenso.
Jamie Bell e Willem Dafoe são as novidades no elenco e mandam bem. Principalmente, o primeiro, que surge como o perturbador e misterioso K. Se no primeiro volume, Lars von Trier fazia referência clara à sua polêmica declaração sobre o holocausto, aqui ele volta a discutir o conceito do politicamente correto.
Diante de uma verborragia quase que sem fim, um discurso chama a atenção e realmente merece a reflexão: Se um homem agisse como Joe, ele seria objeto de julgamento? Diante de tantas palavras, von Trier realmente acerta em cheio aqui, ao apontar para a sociedade machista em que ainda vivemos.