No início, este filme argentino parece um grande melodrama: uma mulher está com problemas no casamento e decide visitar uma amiga, cuja filha acaba de tentar um suicídio. As frases são sombrias, as lágrimas estão presentes desde as primeiras cenas. Alguns minutos depois, no entanto, parecemos entrar em um filme experimental, quando a vista da janela é substituída por uma projeção cinematográfica, com imagens azuladas e trepidantes da natureza lá fora. O que essa projeção estaria fazendo ali, substituindo o mundo real? Seria uma reflexão sobre o simulacro, sobre o cinema como representação da realidade?
Antes que esta ideia se desenvolva, entram elementos de suspense (novas tentativas de assassinato, vultos caminhando), erotismo (as mulheres experimentam momentos de lesbianismo) e terror (elas treinam tiro na floresta, e talvez tenham acertado um animal/humano que grita sem parar). Todos estes gêneros são costurados por uma câmera que treme ao limite da vertigem, como se o diretor fizesse questão de lembrar que essa história não passa de um artifício. Algumas Garotas segue por caminhos muito diferentes, como se vários filmes distintos tentassem conviver na mesma duração.
A principal referência parece ser mesmo Cidade dos Sonhos, clássico controverso de David Lynch que também continha as pistas falsas, a incerteza, a personalidade ambígua das protagonistas e o suspense-erotismo. Mas Lynch é tão enigmático quanto coeso: embora o cineasta americano crie ambientes pouco realistas, ele oferece sempre os mesmos símbolos, os mesmos personagens, até que esse conjunto único ganhe um sentido próprio. Já o argentino Santiago Palavecino atira para todos os lados, introduzindo novos elementos e estéticas, dando impressão de aleatoriedade e descaso com as suas dezenas de metáforas.
No final, a trama se torna tão dispersa que os espectadores do Festival do Rio 2013 não conseguiam mais imergir no filme, e riam fortemente de cada cena "séria", como o momento em que a médica ensina à garota com tendências suicidas exatamente qual artéria cortar para ter sucesso na próxima tentativa, ou quando um taxista conta pela segunda vez a história de fantasmas ao passageiro. Tudo pode acontecer, tudo parece um sonho - ou pesadelo. Algumas Garotas consegue ser ao mesmo tempo muito modesto, por seus poucos recursos e imagens digitais de baixa qualidade, e extremamente ambicioso (Ou seria prepotente? Arrogante? Ingênuo?), ao embutir na mesma obra tantos elementos, tantas tentativas de ser "profundo" que o esforço beira o patético, e faz desta obra desajeitada algo lamentavelmente superficial.